domingo, 22 de março de 2020

CORONAVÍRUS, QUARENTENA, A HISTÓRIA, AS SOMBRAS, NOSSA SOCIEDADE E O FUTURO.

O termo "quarentena" , pelo que sabe, veio da prática medieval de manter sem comunicação nos portos durante quarenta dias, os navios procedentes de determinadas áreas e sobretudo do oriente. Provavelmente, o termo foi inspirado nos relatos bíblicos, quando Jesus foi tentado no deserto por 40 dias. Os registros do evangelho segundo Mateus, Marcos e Lucas nos contam sobre essa experiência, os dois últimos nos fala sobre três tentações específicas, mas tudo indica que Jesus enfrentou muitas outras, com os desafios do Diabo, este ser que pode e deve ser interpretado dentro da dualidade do bem (O Reino dos Céus está dentro de Vós) e do mal (o Diabo) que existia e existe dentro de Jesus e de todos nós. Nos caberia investigar a fundo o que é, de que maneira surgiu o conceito de “tentação, termo religiosamente empregado em associações com os 10 pecados originais e outros derivados, no contexto da moral, sempre em transformação histórica e cultural. Jejum - Jesus enfrentou o diabo e nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome. “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Poder/Vaidade/Ambição - “Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua”. Poder/Fé/Confiança/Fidelidade -O Diabo levou Jesus ao pináculo do templo e disse: “Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo (e voa)”. Jesus não aceitou este e nenhum dos outros desafios, preferindo não revelar sua força e poderes, pois confiou tanto no Pai que recusou duvidar ou testar a sua fidelidade: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”. Estes quarenta dias representam psiquicamente, o enfrentamento da sombra, conforme Carl Jung, o “lado sombrio” da nossa personalidade, o submundo conturbado da nossa psique que reúne os nossos sentimentos mais primitivos, os egoísmos mais profundos, os instintos mais reprimidos, aquele “eu escondido” que a mente consciente rejeita e que nos mergulha nos abismos mais profundos do nosso ser. Ao trazer o termo quarentena deste contexto histórico e religioso para os dias atuais, nesta terrível época do Coronavírus, temos que saber que atualmente, a quarentena corresponde ao período máximo de incubação de uma doença, segundo a legislação sanitária internacional, mas que apenas quatro doenças são quarentenárias: varíola, peste, febre amarela e cólera na exigência de observação dos comunicantes de um paciente. O período de incubação se refere ao intervalo entre a infecção do ser humano pelo vírus e o início dos sintomas da doença. Contudo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no caso do Covid-19, esse intervalo varia de 1 a 14 dias, geralmente ficando em torno de 5 dias, portanto a quarentena trata-se neste caso de um período de segurança para evitar o alastrar do vírus, já que se sabe que uma pessoa pode ter incubado o vírus e ele não se manifestar, mas ser transmitido a outras pessoas, sucessivamente. A quarentena, a rigor, não é o mesmo que isolamento, pois este segrega um doente do convívio das outras pessoas durante o período de transmissibilidade, com o intuito de evitar que outros indivíduos sejam infectados. Estar de quarentena, portanto, é evitar que o vírus se espalhe pela população, mas podemos fazer uma ponte com a nossa psique, já que neste tempo de isolamento temos mais possibilidades de entrar em contato conosco, com nosso eu, sem os impedimentos da correria do dia a dia, nos permitindo refletir sobre nossas próprias vidas e descobrir nossas sombras, individualmente e na convivência íntima com nossos familiares. Uma oportunidade rara, que devemos aproveitar ao máximo, para nos avaliar e reavaliar nossos valores, nossas vidas, nos conhecendo melhor. Se isso de se dá no âmbito individual e familiar, também de se dá na esfera coletiva, onde a própria estrutura do sistema e tecido social e político entra em choque e precisa ser reavaliada. Perguntas diversas surgem sobre o modelo de sociedade que construímos, onde o capitalismo da sociedade de consumo e o capitalismo financeiro ora vigente dominam e produzem injustiças sociais profundas, em uma concentração de renda absurda, que privilegia e dá excesso de poder a uma minoria que domina a tudo e a todos, produzindo estragos de toda ordem, colocando o lucro acima da vida, ferindo maciçamente os indivíduos e a maioria da população, além de destruir a natureza, tornando o futuro do mundo de todos nós totalmente inviável. Sem dúvida, a catástrofe do Coronavírus nos leva a uma profunda reflexão. Quanto tempo durará esta desgraça mundial e o que virá após ela não sabemos. Aproveitemos ao menos este lado positivo em meio a tantas coisas negativas e distópicas.