sábado, 18 de julho de 2020

Vírus

João acaba de dar um um último retoque naquele logotipo, que levou uma semana toda de trabalho contínuo, até perfeito como ele queria e, certamente, o cliente iria adorar. Foi quando a tela toda começou a fica louca, várias janelas começaram a abrir simultaneamente. Ele olhou assustado, sem saber o que fazer e, de repente, tudo ficou escuro, o computador apagou. João tenta reiniciar, pra ver o que aconteceu, mas o computador não liga. Desesperado, coloca a máscara protetora, pega o computador e leva até seu técnico de confiança, perto de casa. Explica o que aconteceu, deixa o computador, e no dia seguinte liga para saber o diagnóstico. Tiago, o técnico, explica que provavelmente foi um vírus muito potente, que afetou a placa mãe e não dava para recuperar os arquivos. João, desesperado, pergunta na loja se eles têm um computador para emprestar, pondera angustiado que tem que refazer todo um trabalho de uma semana e que o prazo seria até o dia seguinte. Tiago acena positivamente, João agradece e leva o computador para casa. Coloca com cuidado o computador em cima de sua mesa de trabalho. Tira a máscara, coloca num recipiente com água, despeja detergente, agita para fazer espuma e tampa. Começa a se despir ali mesmo e vai jogando a roupa num cesto. Vai até o banheiro e toma uma chuveirada rápida. Ao sair do chuveiro, João se sente ofegante, transpira muito, bate um cansaço enorme. Ele deita na cama do seu quarto, tentando se acalmar, faz um exercício respiratório e tenta se concentrar na respiração. - Deve ser o trauma com o ocorrido, pensou. Ele fecha os olhos e tenta dar um cochilo. Vinte minutos depois, acorda, preocupado, e vai até sua mesa de trabalho, liga o computador e tenta começar a redesenhar o logotipo, de memória, quando começa a tossir. Vai até o armário, pega uma mistura de gengibre e mel que havia feito e colocado num pote, dias antes, quando começou aquela tosse. Coloca uma colher de sopa, enche com a mistura e leva à boca. Volta para o computador, começa a desenhar, mas sente um arrepio de frio. Sobe a escada até o quarto, abre o armário, pega uma blusa grossa e veste rapidamente. João já está tremendo de frio. É quando lembra dos sintomas do Covid 19, preocupado. João, que mora sozinho, vai até o computador e revisita um site que fala dos sintomas e o que fazer em caso de tê-los. Ele volta a desenhar o logo e faz isso até tarde da noite, com a tosse pior, o frio que não passa, e transpirando muito. Dorme exausto às 3 horas da manhã. João acorda duas horas depois e, se sentindo muito mal, quase não consegue respirar, liga para o Samu com dificuldade e, em trinta minutos, está dentro da ambulância, a caminho do hospital. Um mês após tudo isso, semanas de UTI e quarto do hospital, João está de volta à sua casa. Abre o computador emprestado, lembrando que tem que ligar para a loja, para o cliente por causa do logotipo, mas antes dá uma olhada num site de notícias para se atualizar. Logo depois, lê: HACKER ANÔNIMO INVADE SISTEMA DE BANCO, RETIRA MILHÕES E ENVIA RECADO PELAS REDES SOCIAIS: “VOU USAR O DINHEIRO PARA SALVAR VIDAS DE POBRES QUE VOCÊS MATAM TODOS OS DIAS”. João sente um cheiro ruim, vai até a lixeira. Tira a tampa e vê inúmeros vermes se movimentando em alimentos putrefatos. Ele fecha o saco, retira-o, leva para fora da casa e o deixa à espera de um caminhão passar. O vizinho da direita acaba de fazer o mesmo e acena para João, aqueles acenos de boa, fria e distante vizinhança, que nem sabe o que se passou com ele no último mês, afinal, como saberia, se jamais trocaram palavras além de bom dia, boa tarde, boa noite e alguns tudo bem? Neste momento, João repara a enorme quantidade de sacos de lixo espalhados por toda parte. Toma coragem e pergunta ao vizinho: - O que acontece? Os caminhões não estão pegando mai o lixo? E o vizinho, surpreso com a pergunta, responde: - Você estava fora? Não está sabendo? Os lixeiros estão em greve. Têm que morrer todos, onde já se viu, querem aumento de salário, essa gente ignorante que tem que agradecer aos céus por receber um salário. São esses comunistas que incentivam essa gente. O comunismo é um vírus espalhado pelo mundo. E nós, gente do bem, ficamos sujeitos a isso. Maldito vírus comunista.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

A DOR ESCONDIDA É A A MAIOR DAS FAKE NEWS.

É chato falar de dor, ninguém quer ouvir, nem nós queremos ouvir a nossa. A dor não pode ser mostrada, o sofrimento não pode ser compartilhado, não há receptores para isso. A dor é jogada pra baixo, escondida na sombra, pois ela é mal vista. Não se pode sentir dor, pois ela é entendida como coisa de fracos. Estamos prontos para vibrar com palavras otimistas, de superação, sempre em moda. Apesar disso, todos sentimos muitas dores, principalmente em épocas difícieis como esta. Mas escondemos, camuflamos, empurramos pra baixo do tapete da alma, porque queremos ser bem vistos, sempre fortes, corajosos e imbatíveis. Falar da própria dor não é nada publicitário, é má propaganda. Assim, não encaramos nem a própria dor, muito menos estamos prontos para ouvir a dos outros. E não encará-la é não poder superá-la. Não compreendê-la, escondê-la, é conservá-la cada mais forte em algum canto de nós. Um mundo que não aceita a dor de ser, a dor dos fatos, não pode vencer os obstáculos, porque não é verdadeiro na dor de cada um dos seus membros. A dor não impede o riso, o riso da própria dor, mas também não impede as lágrimas, o sentir por inteiro. E não há sentir por inteiro, sem dor, doa a quem doer. A dor só é permitida e propagada quando ela fala tão alto que não é mais possível não escutá-la. Geralmente, é quando muito estrago já foi feito. Vivemos uma época de muita dor, pessoal e coletiva. Reconhecer e trabalhar isso dentro e fora não ajuda na imagem, na propaganda de nós mesmos, mas é vital para encontrar saídas, por mais que isso doa. Ninguém quer a dor, muito menos ficar nela, mas admiti-la e compartilhá-la em busca de solução é fundamental para crescermos como seres verdadeiros e autênticos.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Marido e Mulher e vice-versa (na era das redes sociais)

- Te mandei um email. - Não vi! - Enviei também um zap! - Puxa, não vi! - Te chamei no zoon! - Puxa, quando? - Fiz vários comentários nos seus últimos posts no face e no insta. E te chamei inbox. - Jura? Não vi. - Você anda muito ocupado? - Não, quebrou meu celular e pifou a placa mãe do computador. Você está no celular? - Sim, e você está em um computador de alguém? - Sim, no seu. Muito bom ele. - Onde você está agora? - Em casa, no quarto do fundo. E você? - Na sala. Podemos nos encontrar hoje à noite pra jantar, na cozinha? - Vamos sim. Eu levo alguma coisa? - Sim, traz o computador.

domingo, 5 de julho de 2020

Mônadas, cebolas, os 7 corpos e 7 planos

Alguém um dia disse que somos como cebolas, com várias camadas, cada uma mais profunda do que a outra que, à medida que nos arriscamos a explorá-las, nos revelam aspectos desconhecidos de nós mesmos. O mergulho nestas camadas nos revelam o inconsciente, aquilo que nos move, sem que saibamos, na superfície. Os estudos espiritualistas nos ensinam que temos 7 corpos, com denominações diferentes, mas que eu resumo como: corpo físico, corpo etérico, corpo astral, corpo mental, corpo causal ou mente abstrata, corpo búdico ou intucional e corpo átmico ou Eu superior. A cada corpo existe um Plano correspondente. Na Terra, vivemos com os 7 corpos e o corpo físico manifestado. No Plano Astral, deixamos para trás o corpo físico e o etérico, que é o elo de ligação entre o físico e o astral. Depois do astral, vamos para o Plano Mental, deixando para trás o corpo astral e assim por diante. A Mônada seria aquela que contém todos estes corpos de cada indivíduo. Acima das manifestações das Mônadas, ainda existe o Plano Adi ou Divino, de onde saíram as Mônadas. Cada Mônada manifesta-se, segundo as tradições, em 12, e cada um destes 12 em 12, perfazendo 144 individualidades. Desse modo, aquilo a que chamamos de eu pertencente a uma Mônada, coexiste simultaneamente com mais 143 indivíduos vivendo aqui na Terra, em outros planetas e em outros Planos ou Dimensões. Mas voltemos à cebola, que aqui nesta proposta seríamos nós vivendo aqui e agora na Terra. Digamos que a camada superior da cebola seria o eu consciente e a camada abaixo o eu inconsciente grau 1 as camadas sucessivas abaixo seriam os graus 2, 3, 4, 5, 6, 7... Depois de trabalhar bastante com análises em psicoterapia, por exemplo, podemos partir, também por exemplo, para a meditação e ela ir nos fazendo aprofundar nos outros graus de camadas. A iluminação, tão falada no budismo, poderia num dado momento ser alcançada quando atingiríamos a última camada da cebola, conhecendo a cebola por inteiro, um processo que pode levar muitas vidas dentro do prisma da reencarnação. Mas quem se iluminaria, o indivíduo x pertencente a 144 individualidades dentro de uma Mônada? Ou ao conhecer todas as camadas da cebola, o indivíduo x reconheceria todas as suas individualidades, integrando-as todas naquele momento? E se um dos 144 integrou, todos os outros 143 teriam que integrar simultaneamente. E nesse momento, cessaria para esta Mônada a roda das reencarnações. Cessando esta roda, o que aconteceria com a Mônada? Ela voltaria a fazer parte do Todo Divino no Plano Adi, como alguns apontamentos exotéricos indicam. Como pode-se perceber, não é fácil entender como se processa tudo isso, e talvez toda esta exposição espiritualista seja apenas o que é possível perceber ou conceber na primeira e na segunda camada da cebolas, ou seja, tudo isso não passe de um esforço humano para tentar explicar sua existência, criando um quadro ou uma história inteligível para sua limitada compreensão da vida.

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Filosofia em Movimento - canal no Youtube

Vale a pena conferir. Um canal para tratar de filosofia ao alcance do público, que recebe vídeos do projeto coletivo Barraco Filosófico, assim como dos projetos Desentorta com Filosofia, Conversas com Bufões, Barraco Filosófico, Mulheres e Mitos, Vaia Viva e Trocas de Casal (bate-papo entre casais sobre cultura, artes, filosofia, dia a dia), vídeos independentes sobre Filosofia em geral e, especificamente, Filosofia em Movimento. Link: https://www.youtube.com/channel/UClprKEPh6m7oo4FuBgVAUPw/featured