quinta-feira, 15 de junho de 2017

De Jerusalém a Brasília

· Andei Andei tanto Vi a alegria de perto Vi a morte me acompanhando Vi o Norte e o perdi de vista Ouvi palavras lindas como Jerusalém Vi o vento levar tudo Vi o crepúsculo Vi o avesso Vi a noite sem fim Vi Shakeaspeare bêbado escrevendo o Rei Leão em um guardanapo de pano manchado de chumbo Vi Fernando Pessoa batendo carimbos na Lua Vi John Lennon socando um amigo imaginário Vi Salomão numa orgia de três dias e não havia apenas mulheres Vi Jesus negar o cristianismo Vi o ódio de um escravo torturado provocar um abalo sísmico Vi um humorista famoso batendo em sua esposa com os dentes cerrados Vi Hitler sendo comido e gemendo de prazer com voz fina Vi Maria Bonita atirando em uma criança Vi toda a dor de Florbela Spanca Vi o tempo passar e não passar nunca Vi um índio encharcado de álcool e um capataz com fósforo aceso Vi um fósforo aceso não apagar nunca Vi Florbela atirando em Maria Bonita que virou amante do amante de Hitler que era um humorista que adorava piadas de tortura e ria descontroladamente quando via Jesus na cruz Vi Jesus repreender Salomão que inspirou John Lennon a criar Imagine depois de socar um amigo Vi Fernando Pessoa com uma coroa do Rei Leão se olhando no espelho numa noite sem fim Ele estava do avesso em um verso sobre o crepúsculo Verso levado pelo vento e jamais publicado Palavras lindas sem Norte de Jerusalém a Brasília A morte era uma alegria por perto Eu não entendi nada e então Andei Andei Andei Andei

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