domingo, 25 de novembro de 2012

Joseph Campbell, o mitólogo indispensável.

Se você ainda não leu Joseph Campbell (1904-1987), não sabe o que está perdendo. Campbell investigou, ao longo de toda sua vida, a evolução das religiões. Na obra As máscaras de Deus, dividida em 4 volumes - Mitologia primitiva, Mitologia oriental, Mitologia ocidental e Mitologia criativa - o pesquisador conta como nasceram os mitos que deram origem a religiões em todo o mundo. Aponta semelhanças, mostra o lado oculto e desvela as metáforas das histórias mitológicas, mas principalmente indica às mentes estreitas que os mitos tendem a se tornar História, o que é Campbell conta sobre um trecho do livro sagrado do budismo, onde Buda estica uma das mãos e de cada dedo sai um tigre que ataca seus inimigos. Se estivesse na Bíblia, esse mesmo trecho tendo Jesus Cristo como protagonista, os crentes iriam jurar de pés juntos que foi desse jeito que aconteceu. Como disse Alan Watts (Myth and ritual in Christianity): “O Cristianismo foi interpretado por uma hierarquia ortodoxa que degradou o mito até convertê-lo em ciência e história. [...] Porque quando o mito é confundido com história, ele deixa de aplicar-se à vida interior do homem.” Campbell diz que em todo Oriente prevalece a idéia de que o último plano da existência é algo além do nosso pensamento e nosso entendimento. Sendo assim, podemos acreditar no mistério mas não racionalizar ou querer situá-lo histórica e geograficamente. Lá não há o culto como conhecemos no Ocidente. Linhas de pensamento religioso orientais são: “Saber é não saber, não saber é saber” (Upanishad). “Isto és tu” (Vedas). “Os que sabem permanecem quietos” (Tao Te King). Chegar ao outro lado da margem do pensamento para encontrar paz e bem-estar é a finalidade do mito oriental. No mito ocidental existe sempre um criador e uma criatura e os dois não são o mesmo – estão sempre em conflito e sempre há alguém ou algo a atrapalhar, incomodar: um diabo, um extraviado da criação. Diante da pouca importância que o homem tem diante de um Deus tão exigente, ele deve se ajoelhar e servir e não questionar e obedecer a parâmetros sempre ditados por alguma instituição, uma igreja, uma denominação. É uma religião de subserviência, cuja gestão é o conflito e o terrorismo psicológico. Para Campbell, as grandes metáforas das religiões não podem ser entendidas como realidade e não podem atrapalhar o avanço científico da sociedade; não podem interferir na paz entre países, nem em angústias para as pessoas; não podem restringir o direito de amar – ora vejam! –, nem provocar ódio. As grandes metáforas das religiões deveriam ser poesias para os ouvidos – mas ninguém quer saber de poesia!

Nenhum comentário:

Postar um comentário