quarta-feira, 15 de julho de 2015

Dor e desespero na luta do ego com o Eu Superior.

Era um pôr do Sol magnífico, ali naquela montanha, onde eu e ela saudávamos nosso amor e a vida, redescobrindo o gosto de estar vivo após tantas tempestades. Fazia anos que me sentia numa maratona entre a vida e a morte, correndo sem fôlego, me recusando a desistir, a cair em depressão, apesar de mil vezes ter desejado a morte. Corria e me peguntava o porquê daquilo tudo, sem nada entender, apenas uma intuição de que tudo aquilo era preciso para me reconstruir como pessoa, nascer de novo, de fato. O fato é que não aguentava mais a mim mesmo. Este ego já não me servia mais, não caía bem, não se ajustava a meus sonhos, à minha procura pela liberdade e amor infinitos. Na verdade, hoje eu sei, eu queria mesmo é que aquele ego morresse para que meu Eu Superior assumisse o comando. A maratona era a limpeza que acontecia a cada passo. A cada gota de suor que se desprendia e era lançada à terra, esta absorvia um hábito, um velho modo de pensar, um rancor, um remorso, um sentimento inadequado, uma estrutura rígida, uma carapaça, uma teoria inválida, um preconceito, e a terra levava tudo para o fundo, para queimar em suas entranhas. Enquanto corria, o vento assoprava em meu ouvido energias, palavras e canções que eu não conseguia ouvir, mas que entravam em meu ser e atuavam, me modificando lentamente, sem aparentes alterações na superfície. Não, aquele mundo que construí não me interessava mais, já não tinha mais nada a ver com ele, que fosse embora, que sumisse de mim. Quando pedia para morrer eu não sabia, mas o que queria era isso, não desencarnar de fato, mas deixar assumir nessa carne o verdadeiro Eu, a que todos têm o direito nesta jornada neste planeta, mas é preciso querê-lo com todas as forças do Universo. Estava francamente desjustado, desequilibrado, numa corda bamba, que tinha a morte de um lado e a vida de outro. Trôpego, eu caminhava, sentindo náusea, tontura, falta de ar. A metaformose não era ao estilo kafkanianao, mas era sim espiritual, intuitiva, mental, emocional, vital e física, completa. Não tinha mais nada naquele ego que me prendesse a ele, do que se orgulhar, ao contrário, não curtia mais nada nele. Estava disposto a arrancá-lo a fórceps ou deixá-lo para trás como uma cobra deixa a velha pele. Ás vezes, enquanto sofria naquele montanha russa de íngremes subidas e descidas, eu gritava desesperado, clamava aos céus e aos deuses que me tirassem dali, que me dessem paz, um lugar tranquilo onde pudesse me sentir seguro. Em outras ocasiões, me sentia absolutamente vazio, perplexo, amorfo, de mãos atadas, sem saber o que fazer enquanto meu corpo-carro era arrastado a uma velocidade frenética. Nada fazia sentido, a não ser que o destino estivesse dizendo que não adiantava fazer nada e eu estava condenado ou então tudo fazia parte do processo de renascer: caos, tempestade, chuva forte, chuva fina, sem chuva e, finalmente, o sol surgiria. Nada fácil se livrar de si mesmo, de suas próprias amarras construídas talvez durante milhões de anos, em várias encarnações. Mas esta era a tarefa, hoje eu sei, era a única coisa de fato que importava. Tudo em volta era cenário e atores, o palco para esta aventura decisiva. Quantos não estão passando por isso sem se darem conta de que o que acontece é esta batalha entre ego e Eu Superior, um para ser vencido e outro para assumir vitorioso, tudo dentro de nós. Passamos a vida toda construindo um ego, aprimorando-o, batalhando pelo seu sucesso, a qualquer preço ou não, colocando ética ou não no percurso e jamais suspeitamos que a missão é vencê-lo, transcendê-lo, ultrapassá-lo. O fortalecimento do ego, coroado dos chamados sucessos pessoais, podem nos dar satisfações momentâneas, orgulho, vaidade, mas não felicidade, o ego não pode nos conduzir de volta pra nossa verdadeira casa, onde somos plenos de amor, paz, liberdade. A maioria quando entra em uma caminhada espiritual não se dá conta disso. Pode até saber racionalmente, ter lido em algum lugar ou escutado sobre esta batalha, mas só vai entendê-la de fato depois de muito tempo, provavelmente quando estiver vivendo uma noite profunda como eu vivia. Aquilo era um verdadeiro inferno, problemas de todos os lados, de todas as matizes se acumulavam e me atormentavam continuamente. Uma leitura aqui, um video ali, uma música, uma meditação ou uma caipirinha ou uma dose de ahyauasca, eram os momentos de relaxamento, de aparente repouso para continuar a correr logo a seguir. A noite escura da alma. O desespero tinha um contraponto na fé que me fazia seguir adiante. Uma fé turva, embaçada, atirada para todos os lados, sem conhecimento de causa, mas indispensável, pois sem ela teria desistido, me matado. Não sabia onde estava o nó de mim mesmo. Pedia a Deus que me esclarecesse logo e me livrasse de uma vez daquela situação aterradora. Comecei aos poucos a fazer paralelos entre o que eu estava vivendo e o Planeta todo, com toda a sua humanidade. Era chegado o tempo da transformação final, da separação do joio e do trigo e, se isso se dava lá fora, primeiro se dava dentro de cada um de nós. Era urgente realmente. A Terra e seus habitantes viveriam uma idade de ouro em breve, mas antes teria que deixar subir todas as sombras e fazer todas as limpezas em cada um de nós. Muitos, já preparados, sorririam e agradeceriam o que estava acontecendo, muitos viveriam sua agonia tempestuosa antes do renascer e muitos simplesmente se agarrariam aos seus egos e morreriam para este Planeta regenerado, teria
m que reencarnar em outros planetas mais atrasados, ajustados a suas vibrações. Era a luz entrando, começava a entender o processo, agora era confiar, soltar o corpo e deixar que o Eu Superior assumisse tudo.

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