sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A DOR E A PROPAGANDA

É chato falar de dor, ninguém quer ouvir, nem nós queremos ouvir a nossa. A dor não pode ser mostrada, o sofrimento não pode ser compartilhado, não há receptores para isso. A dor é jogada pra baixo, escondida na sombra, pois ela é mal vista. Não se pode sentir dor, pois ela é entendida como coisa de fracos. Estamos prontos para vibrar com palavras otimistas, de superação, sempre em moda. Apesar disso, todos sentimos muitas dores, principalmente em épocas difícieis como esta. Mas escondemos, camuflamos, empurramos pra baixo do tapete da alma, porque queremos ser bem vistos, sempre fortes, corajosos e imbatíveis. Falar da própria dor não é nada publicitário, é má propaganda. Assim, não encaramos nem a própria dor, muito menos estamos prontos para ouvir a dos outros. E não encará-la é não poder superá-la. Não compreendê-la, escondê-la, é conservá-la cada mais forte em algum canto de nós. Um mundo que não aceita a dor de ser, a dor dos fatos, não pode vencer os obstáculos, porque não é verdadeiro na dor de cada um dos seus membros. A dor não impede o riso, o riso da própria dor, mas também não impede as lágrimas, o sentir por inteiro. E não há sentir por inteiro, sem dor, doa a quem doer. A dor só é permitida e propagada quando ela fala tão alto que não é mais possível não escutá-la. Geralmente, é quando muito estrago já foi feito. Vivemos uma época de muita dor, pessoal e coletiva. Reconhecer e trabalhar isso dentro e fora não ajuda na imagem, na propaganda de nós mesmos, mas é vital para encontrar saídas, por mais que isso doa. Ninguém quer a dor, muito menos ficar nela, mas admiti-la e compartilhá-la em busca de solução é fundamental para crescermos como seres verdadeiros e autênticos. Ou então, só nos resta a ilusão, a propaganda enganosa, só com glamour e piadinhas, sem dor. Isso vale para indivíduos e para todas as sociedades que não têm o avestruz como animal sagrado.

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