domingo, 22 de outubro de 2017

Viagem à Terra.

Venho de muito longe, não sabia nada daqui, só sabia que seria uma experiência muito difícil por ter que lidar com o novo e inesperado, com toda sorte de sentimentos e forçar minha mente para tentar compreender o jamais visto por mim. Desconhecia completamente as relações humanas por aqui, como se davam, por que se davam, no quê se inspiravam, no quê era ou não estimulante para seres tão iguais e tão diferentes entre si. Ah, como foi duro entender, um processo lento, vagaroso, passo a passo, com muitas nuances de dor e de uma alegria nunca tocada. Tropecei, ah como tropecei, caí e morri tantas vezes neste processo, e agora na maturidade plena, despertam algumas respostas, mas há tanto a descobrir. Acostumei-me nos últimos tempos a viver equilibrando-me numa corda suspensa entre montanhas, entre as polaridades da vida e da morte, do desejo de partir e do ficar para realizar alguns sonhos. Senti medo, muito medo, ainda sinto. Não me lembro do contrato que assinei para as experiências nesta jornada, das cláusulas que permanecem para mim desconhecidas, só vislumbro numa leve intuição de algum acordo que devo ter feito para aprender neste planeta o que jamais aprenderia em outro lugar. Ao vir para cá assumi um passado nesta Terra que passou a ser meu, mesmo que aqui não vivido, o passado de todos os povos de todos os tempos que caminharam nestas paradas pelos quatro cantos do mundo. Uma longa jornada que se incorporou aos meus corpos, que me passou o dever de compreendê-la e vivê-la em toda sua extensão. Da floresta às grandes cidades, da roda às tecnologias modernas na era da informática, do tacape à bomba atômica e de hidrogênio, tudo foi se incorporando em mim. Todas as formas de religiosidade, de ciência, filosofia, topas as vivências em culturas as mais díspares, todas as profissões, todas as condições sociais, todos os sistemas, do tribal, do feudo ao capitalismo contemporâneo. Do mágico ao mecânico, da alquimia a Newton, Einstein e a física quântica. De alguns milhões a mais de 7 bilhões de habitantes. Passei a experimentar em mim um pouco de tudo. De amor, ódio, coragem, covardia, fraqueza, força, inveja, sucesso, fracasso, fé e ceticismo, mas para falar a verdade, muito mais fé do que ceticismo, pois algo em mim permaneceu forte em relação à certeza do divino que está em tudo e em todos; mas, apesar desta convicção, ela sempre necessitou ser muito mais forte do que até hoje tem sido. Para mim, o medo é o meu maior problema, introjetei-o de maneira profunda, desde o início, por isso acho que, na verdade, ele nasceu antes, à altura do contrato para a minha vinda, relutante. Se hoje eu sei que minha acasa original não é aqui, tenho que aprender que minha casa verdadeira é onde eu estiver no espaço-tempo e somente um dia além dele, à origem primeira. O ego, que hoje eu sei e vim aprender aqui a experimentá-lo intensamente, pouco importa diante do Eu Superior que habita em todos nós e que nosso maior dever na evolução é despertar essa consciência. Aliás, esse é o único propósito de tudo isso. A viagem prossegue por aqui, não sei até quando.

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